A Doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa isto é, ocorre uma perda progressiva de células do sistema nervoso central, da qual resultam diferentes sintomas. Estes sintomas podem agrupar-se em dois grupos: 1) sintomas motores: por exemplo, tremor, bradicinésia (lentificação motora) ou rigidez; 2) sintomas não motores: como a depressão, defeito de memória, ou problemas do sono. Estas alterações não motoras podem manifestar-se mesmo antes dos sintomas motores.
As alterações do sono são um problema da DP muitas vezes negligenciado, mesmo pelos neurologistas. Porém, é fundamental lembrar que doentes com problemas de sono podem ter limitações nas actividades da vida diária, como por exemplo, na condução.
Os doentes com problemas de sono podem ter queixas tão variadas como dores de cabeça, dificuldade em adormecer ou acordar muito cedo pela manhã, urinar frequentemente durante a noite, passar o dia a dormir, assim como, os familiares podem referir que os doentes ressonam muito e que por vezes param de respirar, que mexem muitas vezes as pernas ou mesmo que realizam movimentos bruscos e violentos como dar pontapés ou que gritam enquanto dormem.
Na verdade, as alterações do sono nos doentes com DP podem ocorrer durante a noite mas também durante o dia. As alterações nocturnas mais frequentes na DP são:
– a insónia – isto é, dificuldade em iniciar e/ou manter o sono; a perturbação do sono REM (RBD) –perda da paralisia muscular típica de uma fase específica do sono, o sono REM, que permite que a pessoa se movimente, muitas vezes de forma violenta como se estivesse a discutir ou a lutar;
– a síndroma das pernas inquietas –sensação de inquietação e vontade irresistível de movimentar os membros inferiores; os movimentos periódicos do sono – movimentos estereotipados e repetitivos principalmente dos membros inferiores;
– a síndroma de apneia obstrutiva do sono –doença respiratória provocada por colapsos intermitentes e repetidos da via respiratória superior que provocam pausas respiratórias ou pesadelos, que podem ser violentos e muito incomodativos. Já as alterações que ocorrem mais frequentemente durante o dia são:
– a sonolência diurna excessiva – episódios de sono que ocorrem em situações inadequadas e inoportunas;
– e os episódios de adormecimento súbitos – episódios de sonolência excessiva que surgem sem aviso prévio ou que são antecedidos por sintomas que não são suficientes para permitir ao doente tomar medidas que previnam o adormecimento.
Na DP é também conhecido o chamado benefício do sono que é um fenómeno em que, após uma noite de sono, os sintomas da DP estão melhores de manhã ao acordar e antes de qualquer toma de medicação.
Por outro lado, os doentes que realizam cirurgia de estimulação cerebral profunda parecem melhorar a qualidade do sono nocturno.
A causa destes problemas é multifactorial, incluindo aspectos específicos ligados à própria doença, à medicação instituída e tratamentos concomitantes. As alterações do sono têm um grande impacto na qualidade de vida dos doentes e o tratamento destas alterações deve ser integrado no regime terapêutico global. Assim, embora as alterações do sono mais frequentes nos doentes com DP não sejam específicas da DP, têm um tratamento específico nos doentes com DP.
A não esquecer: as alterações do sono na DP são um problema frequente, com potenciais consequências graves, que deve ser identificado e tratado para uma melhor qualidade de vida dos doentes!
Dulce Neutel* (2013) A DOENÇA DE PARKINSON E OS PROBLEMAS DO SONO. Revista Parkinson, n.º13, 2013.
*Médica Interna de Neurologia, Hospital de Santa Maria, CHLN
